Movimento. Mudança. Negação do estático. Ninguém é imóvel, nenhum ser humano é uma coisa só. Ser móvel é necessário, na verdade é natural. E essa mobilidade, esse movimento de mudança, ele vem. Apenas vem. Pode chegar aos poucos, pode chegar de vez, pois por vezes a vida acontece e você nem percebe, por isso acha que uma mudança "veio do nada", mas nunca vem. A vida acontece e nós, voláteis que somos, mudamos junto com ela. E ainda bem que isso acontece.

Eu estava vivendo um ano cheio de reflexões, alguns desconfortos, algumas vontades veladas que insistiam em aparecer. Num belo agosto, tirei férias com meu companheiro, fizemos uma viagem incrível. Conhecemos o Chile, a neve, o oceano pacífico. Voltei na Argentina, dessa vez no frio, vivemos experiências importantes e memoráveis. Voltei pra casa diferente. Voltei acelerada, depois fiquei mais calma e ao mesmo tempo leve, sentindo uma paz diferente.

Uma quarta-feira ordinária de manhã, nos últimos dias de férias, abri o Instagram e vi uma moça com um cabelo maravilhoso em um vídeo. Cabelo curto, no ombro, reto, cheia de poder, elegância, refinamento. Tudo o que eu gosto e me identifico. Me vi ali. Estranho. Bateu uma vontade louca de cortar meu cabelo. Aí pensei comigo "do nada, Alissa?", mas não. Não foi do nada. Relembrei que muitos meses atrás eu já estava com essa vontade, admirando cortes curtos, long bobs por aí, mas a coragem ainda não tava forte aqui. Tinha a vontade, faltava a coragem de mudar. Era um sentimento em maturação. Como tudo na minha vida. E tudo bem. E aí a vontade veio, uma vontade cheia de certeza da mudança que esse corte de cabelo traria. Pois, era mais que um simples corte. A mudança já tava dentro, ela só quis vir pra fora também. 

Claro que precisei de uns dias, um tempo, pra entender que essa mudança de fato estava fazendo sentido dentro de mim. Foi diferente a sensação. Esquisito, positivo. O cabelão foi parte da minha identidade praticamente a vida toda. O que estava em mudança? Eu precisava entender para além do cabelo o que aquilo significava.

Até que a coragem me dominou e eu cortei. Fui num salão de confiança e cortei. Saíram mais de 10 dedos do cabelo. Quando me vi no espelho na hora? Dei aquele sorrisão, um alívio imediato. Voltei. Fiquei pronta pra viver a nova fase. Foram vários cortes dentro de um corte. Foi o início de alguma coisa que tô começando a entender agora.

1 mês já se passou desde o corte de cabelo e muito já tem feito ainda mais sentido. A vida tá mais fluida, as preocupações mais conscientes, o estado presente também mais amadurecido. O pertencimento começando a abraçar novos rumos. A alegria de estar viva, como sempre, bastante latente. E o cabelo novo? Cada dia mais me fazendo feliz. Abracei o novo, com medo mesmo, e virei uma chave necessária na minha vida.

Sempre em frente, enfrentando e reluzindo. Abrindo caminhos.