Sobre ser privilegiado em meio à uma pandemia

maio 14, 2020

Alissa Magalhães | Opinião


Já estamos em maio, há 2 meses vivemos em quarentena por causa da pandemia do coronavírus. Muito se ouve sobre o vírus - ainda pouco conhecido - poder atingir qualquer pessoa, independentemente de realidade social, idade, cor de pele... Muitos dizem que o vírus não faz distinção, basta ser uma pessoa. Mas será que é assim mesmo?

A covid chegou no Brasil trazida de fora, por pessoas que estavam em outros países, e foi (está) se espalhando aos poucos, em cidades e bairros diferentes, em números que variam. Nos primeiros meses, pessoas brancas e de classe socioeconômica mais elevada lideravam as estatísticas da doença. Hoje, período mais crítico, em que especialistas falam de início de pico, nota-se uma crescente de negros e pobres fazendo parte desses números.

O Ministério da Saúde divulgou que as mortes por coronavírus de pessoas pretas e em situações de vulnerabilidade econômica e social aumentaram quase 5 vezes, o que significa o dobro em relação ao crescimento de óbitos de pessoas brancas. No Rio de Janeiro e em São Paulo, bairros com mais negros já acumulam mais mortes. 

O que pode ser refletido a partir dessas informações?

A desigualdade social no Brasil é ainda mais evidente quando analisamos o cenário de forma detalhada. É um fato que todos nós temos que nos cuidar, que estamos com receio da situação, que estamos sofrendo. Mas agora é a hora de questionar os privilégios.

Ilustração Gazeta Online
Eu sou privilegiada. Sou branca, tive acesso ao melhor da educação, nunca me faltou nada, vivo do jeito que gosto e quero. Mas e quem não vive? Quem não pode? Quem pega a doença e evolui o quadro porque não tem acesso a um leito de UTI

É sobre eliminar os "mais fracos" e deixar os "mais fortes" viverem? Que tipo de mundo é esse? Que tipo de pessoa/governo/sociedade são esses? Não sejamos coniventes. Sejamos conscientes. Pessoas são histórias, não números.

Todo esse período deve estar acontecendo por motivos que ainda não entendemos. Minha visão como ser humano, jornalista e comunicadora me diz que só é possível vencer tudo isso com transformação. E transformação começa de dentro. Quando compreendemos nossa realidade, o que podemos fazer, no mínimo, é respeitar a do outro.

Ainda não é hora de se divertir falando de look do dia, compras da semana, hábitos de consumo renovados. Isso é papo que vamos ter outro dia. Agora é o momento de exercer a humanidade e valorizar a vida.

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